sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vivendo e não aprendendo.

O guri deixou a barba crescer,
vestiu preto,
comprou uma garrafa de vodka,
ficou bêbado e saiu falando com pessoas
que ele nem gostava
só porque
lhe disseram que isso era viver.

O guri passou
não sei quantos anos
pra entender
que ele ainda não sabia
o que era viver.

O guri teve que conhecer centenas de pessoas
e flertar com dezenas de garotas
ler um dicionário ao contrário
pra perceber
a diferença entre viver e
sobreviver.

O guri teve que comprar centenas de coisas que ele
nem precisava e
só depois descobriu
o que queria dizer
status
e só depois descobriu
que ele não precisava de
status.

O guri passou metade da vida
tentando agradar os outros
pra entender que
os outros não gostam de agradar os
outros
e ele ficou meio arrependido,
porque tinha agradado muito os
outros
e os
outros
nem sequer tentaram agradar ele,
mas pelo menos entendeu que tinha de viver
por si mesmo e não pelos
outros.

O guri teve que abrir o pulso
e machucar o punho
e apanhar de um policial
pra aprender
que em certas coisas não se adianta bater.

O guri teve que mostrar sua verdadeira face
pra perceber
que ele quase não tinha amigos
mas não ficou muito triste
porque os amigos dele
eram os melhores pra
ele
pelo menos.

O guri teve que entrar em dúzias de discussões
e tentar ter milhares de razões
pra depois perceber
que cada um tem a sua
própria razão
e que
a razão de cada um
levará cada um
a cada lugar diferente
e que cada lugar
e cada razão
quase sempre, geralmente
nem lhe convém saber.

O guri já tentou de tudo,
sexo, drogas,
filmes e músicas
mais drogas
e umas coisas estranhas,
já tentou rir
e já tentou chorar
já tentou se flagelar
e depois flagelar os outros
mas ele ainda sente um vazio
toda vez que deita na sua
cama.

E o guri deposita talvez todas as suas
esperanças
naquilo que as outras pessoas que
dizem
que
sabem viver
falam tanto
e tanto
apontam no peito,
dão tapinhas e falam:
amor.

O guri até esta feliz
mas não está feliz do jeito que queria estar
feliz
ele procura uma felicidade diferente
da felicidade
que lhe deram
não está nem feliz
e nem infeliz
no final,
afinal,
ninguém é completamente feliz.

Mas o guri ainda tem tempo,
talvez comece a se drogar
vire vegetariano ou se alimente do sol,
compre uma van,
monte uma banda,
deixe seu cabelo e barba crescerem ainda mais
gaste todo seu dinheiro em doces
ou ganhe na mega-sena
e vire um puta rico
e coma as garotinhas que gostam dos caras ricos,
as prostitutas enrustidas,
e talvez ele ache a felicidade
sem nem precisar
achar o tal do amor
e talvez ele pare de chorar e bater nas paredes
falar com pessoas estranhas
e tomar vodka
pra preencher o vazio,
que ele mesmo criou
por ficar tentando entender coisas
que não são da sua cara
e talvez ele possa parar de pensar tanto
em tanta merda
e viva como um bosta qualquer
que tem um emprego qualquer
uma vadia qualquer
uma família qualquer
uma vida qualquer
e talvez assim ele preencha o vazio
que ele não decidiu
ainda como vai decorar
nem se vai decorar
talvez nem decore.

Talvez o guri se preocupe de mais
em entender o que é viver
ele deveria se preocupar
em saber
porque viver.

O guri anda tentando pelo menos,
todo dia ele diz que aprendeu algo novo
mas nunca sabe se o novo
é o certo
e ele acha que não sabe julgar muito bem essas coisas de certo ou errado.

O guri na realidade
realmente
não sabe o que é viver
e talvez ele até se orgulhe disso.

Porque o fato do guri
não saber o que é viver
talvez o torne tão
especial
e sei lá o que mais.

Um comentário:

  1. Eu acho que o Guri pensa demais.
    Se ele apenas fizesse o que acha certo, e se arrependesse mais do que não faz, do que do que fez, apenas deixando rolar, ele estaria menos preocupado, e esse post nem existiria.

    Óh Guri.

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