O garoto de preto
anda calmo pelas ruas
olha os comércios fechados
e vê o sol nascer.
Ele acorda as quatro e meia da tarde
e vê o quarto desarrumado
e está de ressaca.
ele não bebia,
não fumava,
nem dava atenção à pessoas sem conteúdo.
O garoto de preto,
não reconheço mais,
o garoto de preto.
O garoto de preto,
mente,
vive mentindo,
mente vivendo.
Diz tanto que mente
que as pessoas acham que é mentira
as vezes que ele diz que está mentindo
e acham que é mentira quando ele diz
que está sofrendo.
Quatro garrafas de vidro
um amigo vomitando no posto
e um outro, disposto.
E ele diz que está tudo bem
e não conta nada mais
além do que lhe convém.
Enfiou uma faca no peito
só pra dizer que esta sofrendo.
E fica esperando a piedade
e a auto-piedade.
O garoto de preto,
está de cinza.
O garoto de cinza,
não conheço,
o garoto de cinza.
O garoto de cinza
bebe
e flerta com pessoas sem conteúdo,
não deseja feliz natal
e não tem religião.
E ele é tudo que o garoto de preto
não gosta,
mas ultimamente eles estão tão próximos.
E depois que o garoto de preto
se despede do garoto de cinza
ele volta pra sua casa
ele volta pro seu quarto.
Ele deita
e sente vontade de chorar,
mas nunca consegue.
Parece que tem algo nos seus olhos
que sempre o atrapalha,
algo parecido com tinta.
E ele dorme sofrendo
vendo uma imagem que não existe.
E ele acorda sofrendo
acreditando em uma coisa que não existe.
E ele continua a ver
algo que não existe
e ele continua a ser
algo que não existe
e é tão real
que ele sente que pode tocar.
E ele corre atrás da imagem
como um burro corre atrás
de uma cenoura.
E mesmo que todos digam que aquilo não existe
ele continua
e todas suas crenças
são de que um dia ele poderá chegar
a ter o que ele tanto vê.
Coitado,
fizeram uma tatuagem
nos olhos
do garoto.
E agora ele corre
sem parar
tentando conseguir
algo que ele jamais terá.
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