Oito anos
me lembro como se fosse ontem
de cima de um morro de pedras
eu e mais dois avistamos ele.
Eu escolhi a forma que o tratariamos,
acabaram aceitando
e alimentamos nossos sonhos de criança.
No começo nós brincavamos
mas acabamos por assumir
uma nova amizade.
Segundas, terças
e o resto das semanas, inteiras
companhia até mesmo quando não desejávamos.
Quatro blocos da construção
e um madeirite
uma tigela de paçoca
e muito apetite.
E quando o caminhão chegava
ele ia deslizar no piso,
não gostava
mas era o que restava.
O pai que detestava,
o pai que aceitava
e no fim talvez, o pai que gostara.
Os outros sempre tiveram inveja,
os outros sempre o odiaram
até que um dia o denunciaram.
Uma ida ao tude
com um fiat uno
e uns trinta e quatro reais
indignação.
Depois disso ele ficou trancado,
mas sempre fugia pelo portão vazado,
dava umas três ou quatro voltas por aí
e ficava pedindo pra voltar.
Foi a shoppings,
a feiras,
caminhou conosco a cidade inteira
não precisava de correntes
um assobio era o suficiente.
E por falta de amor,
talvez frustração,
inveja de novo
ou pura ilusão.
Ele pagou o preço pelos outros,
depois dos oito anos e mais um pouco
ele se foi
e eu vi metade da minha vida indo junto.
Já vi muitas pessoas morrerem
mas sem dúvidas nenhuma me abalou tanto
quanto um colega de quatro patas.
E depois do veneno,
a vizinha nos pediu um pouco de papelão,
e vi todos conterem lágrimas,
talvez por orgulho e vergonha.
Quando vejo as mulheres dizendo
que homens valem menos que cachorros
acho ridículo, puro feminismo.
Mas acho que quanto a ser humano
e animal,
elas tem razão.
Pois certas atitudes me levam a crer
que cachorros são mais inteligentes
do que toda essa gente
que só faz sofrer.
NÃO PODERIA TER EXPRESSADO MELHOR. A DOR DE PERDER UM CÃO OU QUALQUER OUTRO ANIMAL AMIGO. É A MORTE DA INOCÊNCIA. SEM DÚVIDA MUITAS VEZES OU SEMPRE, NOS DÓI MAIS QUE UMA PERDA HUMANA.
ResponderExcluirADOREI, FICO QUASE SEM PALAVRAS!
PARABÉNS!
Obrigado pelo comentário.
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