sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A lagarta azul e seus trezentos e poucos desaniversários.

Whisky,
cigarros,
narguilé,
charutos,
cerveja,
churrasco,
bolo.
Feliz aniversário.

Não me sinto bem
por tamanho egoísmo.

Desculpem-me,
hoje estou chato.

Toda essa situação imposta
é tão desagradável.

Hoje eu só queria ficar sozinho,
só queria escrever,
só queria planar entre meus pensamentos.

Porque todos acham que diversão
é imposta? Porque
todos acham que álcool é
regra?

Hoje estou careta.

Troco o whisky por uma boa música,
todas as fumaças pelos meus textos,
troco o tudo, por nada.

Mas as vezes, nada me faz tão feliz.

Odeio que ter que concordar
justo com você.

Ouvir você é quase
como tomar hipocrisia na veia, mas
se eu não acreditar nisso,
no que acreditarei?

Ainda vejo marcas
de insanidade no ar
e não há muito o que
se fazer.

Minha única opção
é entrar de vez
nessa dança e jogar
este jogo manjado.

O problema é que mesmo
não estando empolgado
eu não sei jogar
para perder.

Agora me passe o narguilé,
essa fumaça leva minha
mente pra longe.

E hoje eu já pensei demais.

Pais e filhos.

Parece que você quer se matar,
põe o veneno de propósito
no copo e bebe com gosto.

Você drena meus sentimentos,
você drena minha alegria, sem saber.

Com esse jeito bobo e
essa insanidade.

Parece que sou seu pai
e olhe a sua idade.

Sei que nem faz
por maldade, mas
a sua inocência
me irrita!

Você nunca percebe o quanto
estou sangrando e você
nunca percebe quando
gostaria de exatamente
todo oposto do que
você me oferece.

Renato, você
estava enganado.

Cochilo vespertino.

- Você está esperando uma carta?
- Mais ou menos, por quê? Obrigado pelo whisky.
- Tem uma carta pra você, eu nem mexi.
- Vou ver... Ah, é só um informe publicitário do objetivo, nada de importante.
- Não é isso né seu zé mané! A carta ainda está na caixa de correio.
- Verei. Ah, e não exagere na bebida.
- Achou?
- Sim.
- Quem escreveu?
- Não diz o remetente.
- Não sabe quem te mandou?
- Imagino.
- Então abre logo essa porra!
- Depois...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Vigésima primeira vez.

Eu simplesmente
não gosto desse dia.

Não que eu tenha medo
do beijo da morte
estar mais próximo.

Morrer é só mais uma consequência.

É só que
essa data apenas me traz passados demais,
apenas me traz futuro demais.

Eu fico pensando demais
na vida, fico
pensando demais
nas tentativas.

As músicas vão mudando
e o ritmo
vai ditando
o que vou fazendo.
Sempre foi assim.

Eu ainda me lembro
quando era só um guri
de poucos anos.
Um guri que ninguém daria um tro-
cado.
Ninguém daria um minuto.

Quem diria?
Vinte anos...
É feliz e
trágico.

Os velhos doze
voltaram.

Eu lembro de tanta coisa,
de tantas pessoas.

E eu mostrei a todos
que duvidaram de mim
que eu podia ser um homem
de verdade.

Está vendo senhor Facuri-pai?
Todas as vezes que o senhor
deixou de olhar na minha cara...
Eu evoluí.

Está vendo senhora Valente?
Todas as suas expectativas
eu atingi. Me vejo como um
espelho seu, melhorado.

Está vendo senhorita ruiva?
Obrigado, por tudo.

Sinto saudades da sua voz
tremula e agitada, me dizendo
coisas que eu não queria ouvir.

E você pode pintar o quanto quiser o seu cabelo,
ainda será ruiva para mim.

Colecionei tantos triunfos
e tantas derrotas
que já quase esqueço.

Mesmo que só tenham
sobrado eu e
a minha fumaça, eu sei que
não estou sozinho.

Tenho tantas pessoas
que gosto de lembrar
que passaria a noite
fazendo dedicações.
Mas não estou ganhando um prêmio,
nem nada do gênero.

Deixo as três mais importantes.

Já tive tantos nomes,
tantos apelidos,
tantas idades,
tantas faces,
tantas ideias.

Já vi tantas coisas,
tantas pessoas,
tantos erros,
tantas histórias.

Já tive tantos apegos,
tantos gostos,
tantos orgulhos,
tantas vergonhas.

Eu realmente não gosto do meu aniversário.

É como se na minha cabeça
passassem
todos os anos da minha vida, desde
que me conheço por gente.

Não que eu não goste do meu passado,
talvez minha tristeza seja banhada
de emoção.

Eu realmente não gosto desse dia.

É como se na minha cabeça
passasse todo o meu futuro e
todos meus objetivos inalcançados.

Não que eu tenha medo do meu futuro ou
preguiça de alcançar meus objetivos.
Talvez minha tristeza seja banhada
de emoção. Por hoje ter coisas decentes
pra se perseguir e
por ter objetivos tão sublimes.

Eu lembro de quando
ainda era de outra cidade
e não tinha visão de nada.

Não tinha alguém para ouvir, alguém
para falar, não tinha nem a mim mesmo
para amar.

Lembro de quando mudei de praia
e comecei a jogar bola. E lembro
de como conheci cada
pessoa que eu sabia
que nunca esqueceria.

Eu lembro de tanta coisa
que eu nunca mais terei.

Lembro cada caminho que acertei,
cada caminho que errei.

Não sei se nesse texto
consigo me expressar, é
um sentimento tão abstrato
que o sinto
esvair-se pelos meus
dedos cobiçadores.

Não que eu seja apenas
um saudosista
que não quer ver a vida passar.

Eu apenas gostaria que ela
demorasse a avançar.

Eu apenas gostaria.

Eu apenas quero que minhas mãos
alcancem cada vez
um patamar mais alto.

E talvez eu nunca consiga
expressar porque me sinto tão mal.

Mas isso não importa muito, são
só vinte e quatro horas e depois
tudo isso volta ao normal.

Eu resumiria bem isso
em um sentimento agridoce.
E esse é o único caminho
que eu conheço.

Agora é só uma questão
de tentar fazer os finais se encaixarem.

Boa noite.
Trouxe meu presente?
Ah, era exatamente o que eu queria!
Parabéns pra mim,
antes que eu me esqueça (Thiago Facuri, 27/10/2010)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Santa ceia.

Descobri que não gosto de
Vinicius de Moraes.

Péssimo começo...
Vamos lá:

Descobri que o amor pode...

Ainda não.
Não ficou a minha cara.
E eu sou o último cara do mundo
pra falar de amor.

Última chance:

Ele saiu de casa
com os olhos brilhando
ao reflexo do seu
frágil sorriso
amarelado.

Frágil, muito quebradiço.

E foi andando, achando
que em meia hora
estaria de volta.

Doce engano.

Deu carona à garota
que ele chama de panda
com o miau no banco de trás.
Deu carona à garota
que disse com aquela voz
de ar puxado, com aquela voz
que ele não aprecia, coisas que não
eram de sua conta.

Depois colocou
as músicas
novas no último volume
atingiu uns cento e
quarenta por hora
bateu o cigarro, olhou pro
lado e sorriu.

Parou o carro em cima de
uns maços vazios
e garrafas quebradas.

Ainda sorria.

E o sorriso ainda era sereno, mas
em seu último suspiro: Argumentou.

Eram palavras bonitas, palavras
decididas e de ombros largos.

Foi admirável,
mas foi inútil.

Continuou a se ofender
com a situação.

Vamos na casa deles?
- Vamos.

E de um por um a resposta era a mesma, é
claro. O culpado circulava entre
nós.

Quase como detetives pensaram;
Quase como juízes julgaram;
Quase como crianças apontaram;
Quase como seres humanos eles agiram;

Mas e então?
Como fica a situação?
Em aberto, ainda.

Aquilo parecia a santa
ceia, só que sem vinho
e pão.

PORRA!
Apenas diga,
expresse, esboce,
gesticule, argumente.
O seu silêncio é o que
fode a todos.

Se soubessem da verdade
nem o crucificariam.

Ele estaria morto antes disso.

Mas, na verdade o que irritava ele
é que tinha alguém
que realmente precisava
de sua presença.

No fim, ao nada
voltaram.

E talvez o nada seja o futuro.

E sinceramente, nada disso importa pra ele.

Pegou seu carro, quase que
dilacerando seus pneus no
asfalto esburacado e
correu pelas ruas, só
pra se mostrar superior.

Cumprimentou Judas, Pedro e
Jesus.

Acelerou de volta
aos seus cento
e poucos por hora, mas
dessa vez
sem o sorriso na cara.

Dêem passagem, ele
está com pressa, há
algo acontecendo do outro lado
da estrada.

Chegou na casa dela e
o seu olhar era tão esburacado
quanto as ruas que ele vagava.

Ele apenas sentiu muito.

Tudo o que movia ele
era a incapacidade
de ver sequer outra lágrima
derramada.
Parou o carro e ficou
sem saber o que fazer,
apenas rezando
para que realmente
estivesse sendo útil ali.

Ele já tinha passado
por algo assim e
sabia o quanto doía.

Santos ou Mongaguá?
- Santos.

E ele só imaginava aquela
música do capital
tocando lentamente
em sua cabeça
enquanto admirava.

Acendeu mais um cigarro
e foi indo pra casa
dessa vez dirigindo
um pouco mais devagar.
As brasas iam tecendo artes
abstratas na escuridão
da noite.

Deu um cochilo de meia hora
ali no carro mesmo, só
pra aguentar chegar ao seu destino. E
funcionou, ele parecia
mais vivo.

Voltou concluindo
uns pensamentos inacabados
e pensando no que diria ao
seu livro.

Agora certas coisas
eram mais intrigantes e
outras mais imagináveis.

É como se tivessem dado
as paisagens que faltavam
aos seus sonhos.

Por um lado chateado, tinha
perdido mais umas coisas
valiosas no caminho.

Por outro lado feliz,
mais um dia havia se passado.
Mesmo sem ele ter dormido.

E não é que eu não goste
de Vinicius de Moraes.
Só acho que ele devia tratar a lua
com mais respeito.

Talvez nem o mundo
que eu imagino seja perfeito.

Chegou em casa e o
chão molhado o fez
lembrar da senhora
de cabelos loiros que
limpava a casa de qualquer
jeito.

E semana que vem
a solidão volta a assombrar.
É um péssimo jeito
de se olhar.

Sentou-se na sala,
com mil e um insetos
rodeando as suas pernas, a TV
desligada e o
controle jogado.
A garota mais linda do mundo
na parede, do lado
de um quebra-cabeças
gigante com mil e um
santos espalhados.
O por-do-sol que era
admirado do meu quarto e
um peixe fora da água iluminavam
a escuridão dali.

Colocou uma singela música
e singelamente
esperou o sono voltar.

Pensou como tudo aquilo era
vazio, mas
ainda queria continuar. Ainda
tinha muitas coisas a falar,
muitas coisas a se pensar.

Talvez
seja só o jeito errado, a
hora errada e as pessoas erradas.
Mas uma coisa é certa:
Eu ando gostando de ouvir,
contar e
admirar essa história.

sábado, 22 de outubro de 2011

Bolhas de sabão.

Meu corpo dói,
sinto que nunca doeu tanto
assim em toda a minha
vida.

Mas uma garota um vez
me disse que essa
sensação engana.

É incrível como
eu lembro perfeitamente.
As cores e os
jeitos e os
trejeitos.
Até o tom da voz.

Talvez eu nunca tanto.

Aquela música
daquele filme, na minha
cabeça, meu
pescoço dói, mas
até que gosto.

Eu até gosto dessa dor toda, sei
que é meio sádico, mas faria tudo
de novo.

Admito que sanidade não é
bem o nosso forte.

Futebol americano de madrugada?
Tsc...

Lembrei!
Thousand miles
é o nome da música.

Talvez só essa sensação
de tomar um banho gelado
e sentir os meus músculos
chorando por uma cama.
Talvez só esse sono, com
essa música de fundo e
esse tempo gasto escrevendo.
Talvez só isso bastasse,
talvez fosse feliz
com dezenas de dias desses.

Só fico meio chateado
de quando em quando.
Lembro de coisas
que me incomodam,
eu tenho medo do
destino que escolhi.

Ainda estou tentando
entender porque escolhi desse jeito.

Vi num filme
que as nossas escolhas
já foram feitas há muito
e que só estamos tentando
entender o porque de termos escolhido assim.

E eu realmente queria entender.

Eu diria que a vida
é bem complicada.

Eu também diria que
essa complexidade
é o que me excita [...]

[...] Eu sempre dou risada
quando ouço essa música, mas
eu ainda amo o piano. [...]

[...] Não sei bem
o que fazer, dizer.

Talvez devesse virar budista
e meditar, talvez devesse
cuidar de pinguins feridos
no pólo sul, talvez
devesse me dedicar a proteger
animais e a flora.
Talvez devesse ficar aqui
pra sempre, talvez
devesse parar de escrever.

Talvez eu apenas goste
de falar talvez.

Acabo de perceber o quão
informalmente estou escrevendo
este texto.
Talvez isso se deva ao fato dos dois
últimos terem sido bem complexos.
Ou pelo fato da minha fadiga extrema.

Permito uma realidade que não
costumo deixar passar.

Acabo de me lembrar
da conversa dos
garotos fumantes.

Sobre a areia, falando sobre o sol e o mar;
Sobre qualidades, defeitos e egocentrismo;
Sobre carros, mulheres e drogas;
Sobre hoje e amanhã e algumas merdas
do passado.

Algumas vezes o tão pouco é
tanto...

Acho quase uma arte amar
tanto olhar o mar.
Acho quase uma arte tanto
olhar para o mar e amar.
Acho quase uma arte amar
tanto o olhar do mar.
Acho quase uma arte
amar tanto te olhar.
Acho quase uma arte
ter algo para amar.
Acho quase uma arte
o beijo salgado do mar.
Acho uma arte
amar.

Acho quase um defeito
se contentar com tão pouco.

Mas se for pensar, o pouco é
tanto pra mim que seria ganância procurar
a mulher mais bonita, o carro
mais veloz e o mar mais límpido.

Não sei, me contento
com o cigarro mais barato, com
a companhia mais ralé,
com o carro mais um ponto zero possível,
com as piadas mais idiotas, com as noites
mais simples.

Mas, admita, é muito melhor
do que procurar cegamente
por uma perfeição que
não existe.

Tudo que quero
é sua companhia
enquanto estouramos
bolhas de sabão
num quintal qualquer.
Tudo que eu quero
é você, sob
o nascer do sol, depois
de um vinho mais
ou menos, com muito
sono.

Acho que em relação a detalhes sou
muito mais ganancioso.

Nossa, ainda tem areia nos meus olhos...

Deixando pra lá
toda essa riqueza de detalhes:

Tudo que quero agora é
um café forte, um chocolate e
um cigarro, daqueles bem fortes, longos e com gosto de menta que só eu fumo.
Ah, e eu quero uma massagem também.

Nossa, daria tudo por uma massagem sua.

Vou parar de escrever ou nunca
pararei. Boa noite,
aliás, bonita noite.
Gosto de noites assim.







nota de rodapé:
Gostei do título,
pergunte-me porque.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mescla.

As mentes das pessoas
fedem.

Sexo, sangue, drogas.
E escrúpulos excessivos.

Julgam, odeiam,
amam.

Desejos tenebrosos,
corações melindrados.

No fundo são todos iguais;
No fundo somos todos iguais.

Diferentes, porém iguais.

Previsíveis,
maldosos,
horríveis e
sempre implorando por uma segunda chance.

Sem sequer pensar
o que foi dito.

Suscetibilidade
a medos.

Reclamam tanto do
tempo que viverão.
Gastam tanto tempo
reclamando
de tantas coisas
inúteis.

Sempre dizendo as
mesmas coisas, dando
os mesmo conselhos e
errando nos mesmos lugares. E
ficando nos mesmos lugares.

Cada um com seu próprio
Jesus, cada
um com seu próprio Deus.

Criticando qualquer coisa
que não lhe seja doce.

Cada um com seus próprios
sonhos melancólicos, de
falsos heróis, com
falsos finais.

No fundo são todos iguais;
No fundo somos todos iguais.

Diferentes, porém iguais.

E o futuro todos já sabem,
é a mesma coisa, com um tempero
novo. E por isto
eu nem espero mais.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Vento distorcido.

Ele se sentou
na cadeira da
cozinha e olhou
pra porta escancarada e
o seu papagaio fazia cara
de quem pergunta.: "O que
você está fazendo aí, acordado?"

Eu não sei como
dizer o que ele
está sentindo, mas
dá pra notar
pela sua feição
que algumas coisas andam
fora do trilho.

Mesmo agora
o coração dos dois
continuam gritando.

Ele estava apenas sentado
com os cotovelos
em cima da mesa
e os dedos entrelaçados.

A luz apagada,
com uma iluminação natural.
Talheres e pratos sujos.

Um óculos e uma garrafa vazia
para se lembrar
do que lhe atingia onde mais
lhe doía.

Fique.

Os braços de ninguém
o confortariam
mais.

E por mais que quisesse
só a lembrança
vagava.

Andava desanimado,
faculdade, família
e problemas no trabalho.

Não reclame, eu
disse.

Ele deu um sorriso simpático
com os olhos fechados...
Ah, como eu amo esse rosto,
quase me esqueço do que
tenho a dizer.

Quase que digo
que a imagem daquele rosto
valeria mais que
mil das minhas letras.
Brancas e gélidas, com
o mínimo do que
sinto, com
quase nada do
que eu desejo.

Mais cedo
ele saiu de casa,
só pra acender mais cigarros
com aquele isqueiro
escroto, laranja.
Cara, isso não é do seu feitio.

"Você precisa de mim?"

Se ele soubesse do que precisa
eu já estaria feliz.
Mas acho que seu colo
não seria ruim.

Foi pra santos de novo, parece
que tenta achar
algo que não acha aqui.

Pegue o caminho normal, eu disse.
Mas ele nunca me ouve, nunca.

E cinco minutos depois
estava ele, com as mãos
na cabeça e uma
luz na cara.

E os homens perguntando de onde
ia e pra onde vinha.

Depois saiu rindo, como
quem tenta disfarçar.
Mas eu sei, nem tente
me enganar.
Eu ouço seu coração daqui.

Um gole na dolly limão
e o medo de não sei o que.

Se você realmente está preocupado
porque não dorme?

Depois disso
piadas maldosas,
maldosas demais.
Senhor,
desculpe ele por mim.
Não que eu esteja
tentando justificar, apenas
gostaria de tomar as
dores.
O sofrimento dos outros
rende essa risada gostosa
que ele usa pra
fingir que não se importa.

Odeio quando você levanta
as sobrancelhas e suspira.

Odeio essa sua cara
de quem pode resolver tudo.
Odeio essas suas lágrimas de crocodilo.
Odeio o seu jeito de pensar,
odeio essa sua cara de sono,
e o seu olhar vago, odeio
quando você fica pensando
no que fazer, dizer, ser...
Odeio você!

Essa sua cara
de paisagem não me engana.

Suas dúvidas são
as mesmas pra variar.

Onde foi que você deixou
sua vontade?

Não responda.

E os minutos passam
e vai ficando cada vez
mais tarde. E
você pensando
nos lábios
daquela menina.

Sempre tudo
se resume a isso.

Por quanto
tempo mais
vai ficar
olhando o relógio
de parede?

Por quanto
tempo mais
vai ficar
olhando os peixes
nadarem?

Por quanto
tempo...

E você ainda me diz
coisas tão estúpidas
quando dorme e
ainda reclama
que não consegue
chorar.
Não é a toa
você deixa sempre
esse trabalho sujo
pra mim.

Se lembra
daquele
rosto vermelho
e da voz tremula
dizendo que
não aguentava mais?

Eu jurei
que não perdoaria
ninguém que fizesse
quem eu amo
chorar.

E em que situação difícil
você me colocou
senhor Facuri.

A que ponto o senhor
deixou chegar. Por
dezenove anos
eu acreditei em amor
por causa disso.
E agora você quer brincar
de ser filho da puta?

Até domingo de noite
seus olhos estavam
tão tranquilos, finalmente
me lembraram
os olhos daquele
menino que eu amei.

E hoje
você me vem
com essa mão na
cara e
essa bagunça no cabelo.

Você não tem jeito.
Acho que eu atirei
uma cruz na pedra.

Você reclama agora, mas
a culpa não é minha.
Me deram o escudo errado, me
deram uma espada sem corte, me
deram uma vítima inocente demais.

E só o medo
da angústia
te deixa angustiado.

Vamos ensaiar tudo de novo,
do começo, quantas
vezes você quiser.
Vou aturar à sua fascinação
por pessoas que não merecem, vou
aceitar o seu descaso
pelas pessoas que te amam.
Mas porra,
me deixe trabalhar, ok?

Olhe,
estamos juntos nessa,
então, não me faça desistir.
Eu sei que você é muito mais
do que isso que eu ando vendo.

Volte a ser
o que você realmente ama.
É isso que eu realmente amo.
E não espere o amor de ninguém.
Pois se o nosso amor acabar,
você não mais haverá.

Agora eu preciso de uma folga.
Sério... Vá dormir.

Apague as luzes e
não demore tanto
no título. Isso me enche o saco.

Anseio nosso reencontro
e espero que nossa conversa
tenha servido para alguma coisa.

Cordialmente, sua consciência.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Talking about me, baby.

Uma música dos anos 70
enquanto eu admirava
sua falta.

Um policial me parou
e perguntou o que
eu fazia por ali.

Eu disse umas mentiras,
e disse algumas verdades.

Bom dia senhor.
E ele me dispensou.

Um desvio na pista,
acabei tendo de mudar
meu rumo.

Ouvi de longe
um barulho que me deu
saudades.

Era profundo, simples,
singelo e excitante.

Parei o carro em um lugar
qualquer, ativei o alarme
mesmo sabendo que
não ouviria do lugar
que iria.

Atravessei a chuva e o frio
e a barra da minha calça social
arrastou na sujeira do chão. Os
pés descalços
marcando a areia da madrugada,
ajoelhei perto do mar.

Acendi, com dificuldades,
um cigarro-
um longo cigarro.-

Um bônus - risos. -

Fiquei admirando o mar
escuro como sempre
gostei. Acho
que é isso que me prende a essa cidade.

A calma e a escuridão
contra todos os meus sentimentos.
Finalmente consegui me expressar
fisicamente.

Na volta
dirigi o mais devagar possível,
como se não quisesse chegar
em casa nunca mais.

Um gato caçando um rato e
ouvi latidos, respondendo o
motor do meu carro.
Desculpe te dar esperanças
cachorro, desculpe te decepcionar.
Um carinho de consolo e
fique quieto.

Depois sentei no sofá
da sala, ainda
no escuro e
pensei no que devia
ter respondido
quando o policial perguntou
quem eu era.

Deveria ter dito algo como:
" - Eu sou só um fresco,
eu sou irônico,
eu sou um pecador;
Eu sou um brincalhão,
eu sou um coringa,
eu sou um fumante
eu sou só um andarilho da noite.
E eu acho amor no caminho."♪♫


Talvez ele tivesse entendido melhor.
E eu não tivesse precisado mentir.

Agora me deixe,
com meus efeitos de guitarra.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Me de a mão.

Faziam já uns meses.

Retirei a minha linda
dos braços empoeirados,
assoprei como quem assopra um livro antigo
em uma biblioteca.

Alguns ajustes, um toque
de eletricidade e pronto!
O que eu toco agora?

Droga, todas as músicas que eu
lembro são tristes.
São nostálgicas demais.
Meu braço doí
por falta de prática
e a dor se espalha pelo meu corpo.

Eu amo e odeio.

O cheiro de ferrugem nas minhas mãos e
a sensibilidade da falta de treino,
algumas notas a mais
que eu definitivamente não devia tocar,
meus olhos lutam com meu orgulho
e eu continuo até o final,
cantando as partes que sei.

Enquanto as notas soam
devagar pelo ar
minha mente devaneia
por aí.

É uma sensação única, mas eu tenho
que dormir.
Ou então tocaria o resto da madrugada inteira.

Mas eu prometo que voltarei.

Absinto, muito.

São poucas as pessoas
que eu carrego comigo.

Poderia contar nos dedos
as pessoas que eu quero
junto a mim.

Já que você quis remexer tanto
nos passado, vou te
contar uma história.

Eu sei que já te disse isso, mas
eu me relaciono com pessoas
por interesse. E
nunca tinha cometido
uma exceção até então.

Conheci um cara, que
tocava guitarra, não tinha dinheiro,
não tinha vida social, não
tinha nem a capacidade
de falar direito.

Só tinha um gato, uma guitarra e
um lápis 2B.

Tem horas que eu realmente
acredito em Deus.

Eu geralmente maltrataria,
menosprezaria
uma pessoa chata como você.
Mal sabia conversar pelo msn.

Aí eu te disse que não queria tocar
guitarra. Sei lá, eu amo tanto
tocar guitarra, mas ao mesmo tempo
não é algo pelo qual eu
possa me dedicar tanto.

E de novo, por um
motivo que não sei explicar
eu não parei de falar contigo.

Estranho.

Eu só me relacionava com você
pelas aulas de guitarra, mas daí
então eu decidi te
mostrar um pedaço de algo
que você não tinha muita noção.

E você evoluiu muito, desde então.

E eu não digo isso porque você fuma
ou porque você bebe.
Ou porque você bebe, fuma, usa drogas
ou qualquer coisa do tipo.

Você evoluiu mesmo como pessoa.
Tem objetivos, vontades, disposição.

Eu sempre menosprezei você, mas agora
você tem até a capacidade de me fazer rir.
Ninguém faz o Facuri rir.

É estranho.

Mas eu finalmente posso dizer, com convicção
que você não é só mais um cara
inútil.

Agora eu posso dizer algo
como amizade, agora
em vejo interesse.

Por isso, é melhor continuar
treinando poker
pois ainda haverão muitas partidas;
Muitas bebidas, muitos maços,
muitas saídas pra qualquer parte,
muitas voltas de carro, muitas
histórias pra contarmos,
muitas merdas para fazermos,
muitas músicas pra criticarmos e
muitas conversas para conversarmos.









Tem um cigarro aí?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Hikaru e Kaoru.

Talvez eu pareça
dramático demais,
não leve a mal.

Foi em um vespertino
domingo um garoto
simpático sorriu
tímido e disse:
Posso jogar com vocês?

Claro que sim!
Até mesmo se a
dona Roseli
pedisse pra jogar
deixaríamos.

Eu não lembro bem
mas diria que ele
estava com uma
camisa de time,
com o cabelo
desarrumado e
com um sorriso
meio bobo.

Eu não sei bem
definir quando, não
sei bem definir como.

Mas de um momento
para outro ele
estava na minha
casa contando
coisas engraçadas,
como sempre
soube fazer e dando
risada das suas
próprias teorias.

Mas de um momento
para outro eu
estava na casa dele,
contando histórias
tristes e interessantes,
como sempre
soube fazer e dando
risada das suas reações
enquanto líamos mangás.

Admito: Muitas vezes
achei que você era atrasado
por muito do que fazia, mas
hoje sei que o atrasado
era eu.

Admito também que
nós nunca nos batemos muito.
Sempre fomos opostos
em muitos assuntos.

Você sempre preferiu
ser solteiro enquanto
eu queria namorar e
você gosta das músicas
de hoje em dia,
enquanto eu
sou totalmente
conservador
e você é tão totalmente
sociável enquanto eu era
o garoto de preto.

Tem coisas em você
que eu realmente
odeio, mas se
há uma coisa que
eu realmente admiro
é que não importa o
que você pense,
você leva a sério,
você crê em si mesmo
como não vejo
ninguém crer.

E talvez eu tenha
aprendido isso com você.

Admiro suas opiniões
e admiro até mesmo
sua família. Desde sua
mãe, até o seu cachorro.
E o tanto de vezes
que lamentamos por
nossos pais nunca
terem bebido juntos?
Mas a vida é frágil, todos
sabemos, e não
estou aqui para lamentar.

Lembro de tantas
histórias, de tantas coisas.
Das mais idiotas,
até as mais impressionantes.

Os momentos na praia,
os momentos na rua,
os momentos na escola,
os momentos na academia,
os momentos nas nossas casas,
nas casas dos outros e
em tantos outros lugares.
Tantas coisas que
pretendo não esquecer.

E eu sei que você não
vai nem pra tão longe assim
mas eu sei que sentirei falta.

Eu sei que você
vêm nos visitar,
mas eu sou trágico
assim mesmo.

E não adianta olhar
com essa cara de sono,
eu sou o único que
pode fazer isso por aqui.

Não esqueça de escrever e até logo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poke.

Um charuto de chocolate
para matar as saudades.
A fumaça se dispersando no céu,
nós nos dispersando na calçada.
Como se sonhássemos apenas
com momentos tranquilos.
Como se procurássemos
apenas sobra, apenas sombra.

Homens simples, gostos simples.

Sempre considerei os outros
atrasados, admito.
Mas é explicito que o mais
atrasado sempre foi eu.

Whisky barato
com pouco gelo,
goles difíceis, goles
sem receio.

Analogias sempre
usando um baralho,
e o que posso dizer?
São repetidas, mas eu gosto delas.
Sempre retrataram bem o que eu sentia.

Eu diria que
comecei com carta alta ás e
e agora tenho pelo menos
um full house e nem
estou alto no momento.

Comecei blefando e
apostei quase todas
as minhas fichas. Você pagou pra ver
e fez bem, viu minha mão horrível,
mas admirou minha coragem.

As vezes um par é o suficiente.

Um par de diamantes, no
lixo e você nem imagina.

Troquei sonhos por fichas, só
pra poder jogar mais uma noite
o seu jogo de azar.

Você tinha sorte, sempre
muita sorte, mas caiu
por vezes na minha lábia. Era
divertido, admito.

Sempre fui tão cauteloso e
temeroso com as minhas fichas.

Mas agora estou com
all in e o que posso fazer?

Finjo que sei jogar e
você nunca saberá até que ponto estou
blefando.

Espero que pague pra ver,
minha curiosidade pelo seu
jogo é gigantesca.

Sei que há um possível
flush na mesa, mas estou
acreditando no turn e no
river.
Posso não ter um Royal Straigth flush
mas eu diria que é um jogo
interessante, muito
interessante.

E eu já não ligo mais, mesmo
que perca todas as
minhas fichas
ainda poderei jogar nas mesas baixas.

Ao perdedor a vergonha,
ao vencedor a glória
ao perdedor a esperança,
ao vencedor os despojos.

E enquanto você pensa no quanto
apostar, eu tomo mais um gole
do meu whisky barato e o
meu cigarro queimado pela
metade me
diz o quanto
é excitante esse jogo.

Muito excitante,
não que eu esteja impaciente, mas
eu sou o dealer e é a
sua vez de jogar.

domingo, 9 de outubro de 2011

Pretexto.

Meu bem, querer
meu mal, querer
tudo é pecado.

Fumaças de todas as cores, de todos
os tamanhos. Algumas densas, outras
claras, algumas cheirosas outras
insuportáveis.

E o baralho,
pretexto.
E o barulho,
contexto.

Enquanto fazíamos truques
baratos com as
cartas, eles apostavam
e o carvão ia
ficando vermelho e cinza
sucessivamente.

Foi dormir, ainda
muito tonto, depois
de ter dado risadas com
um filme que nem lembra.

O olhar dele mentia
como sempre, fazia frio
por aqui.

Uma lágrima dentre seus sorrisos.
Parece que não
se decide.

Acordou cedo, fez cara de sono
enquanto dizia algumas merdas
como gosta de fazer.

Pegou o ônibus
atrasado e hoje
não tinha faculdade. Foi
dormindo metade do caminho.

Palavras soltas, sem
objetivo. Mas o coração
de ninguém estava por ali.
Alguns nem tinham.

Horas de espera, me empreste
um fone.

Gosto destas músicas, juro.
A barba engana.

Nunca vivi mais amor do
que estas músicas, ela disse.

Me fez rir, me fez pensar.
Fiquei triste por ela.
Fiquei feliz por ela.

Agradeça a Deus, eu agrade-
ço a você, agradeço a mim. Ainda
nessa hora não sinto bem
o peso.

Depois disso
só o show com a música da
minha banda favorita vale
a pena citar.
Cantei como se estivesse em um show,
mas aquilo era apenas um show de horrores,
literalmente.

Uma parada no bar, depois
de ter deixado a amiga em casa. Veja
uma cerveja e um cigarro
pra relaxar e
vou indo pra casa, preciso descansar.

Estou indo, pretendo
não voltar.