domingo, 12 de dezembro de 2010

19 Esquetes.

Meio dia
e uns trocados
acordou
mal acordou
e com cara de sono
já disse:
- O que diabos estou fazendo acordado?

Quis ficar na cama,
levantou resmungando
só para que
- para inferno futuro -
tentasse cancelar suas obrigações.

Falhou
e decepcionado,
ficou sentado
olhando pra parede
e umas horas e outras
olhava uma criança correndo pela cozinha,
como quem ve um bichinho de estimação novo
ou algo sobrenatural,
olhava espantado
e ria.

Mecheu em uns papéis estranhos
que tinham seu nome
e seu telefone
e ficou bem uns trinta minutos
fazendo esquetes na sua cabeça
e rindo sozinho.

Quando finalmente acordou
se arrumou
e foi fazer uma prova, ou algo assim
e foi até lá vendo alguém passar-lhe sermões,
vendo apenas,
porque só se ouvia o resto de suas esquetes
e ficou meio chateado,
muito chateado,
pois lembrou suas esquetes não podiam ser interpretadas
e cansou de montar seus roteiros imaginários.

Chegou adiantando e foi direto para uma mesa
que tinha seu nome completo
como uma etiqueta
e olhou para os lados
e fintou apenas gente estranha.

Olhou até uns velhos conhecidos,
que não quiseram lhe comprimentar
e teve vontade de vomitar alguns vezes.

Todos vestiam rosa e branco,
azul e roxo,
um ou outro verde limão.

Olhou pro lado e viu um cara
de uns trinta e cinco anos
com uma camisa preta de uma banda
e se sentiu parte de algum conjunto,
ou algo assim.

Conversaram do único assunto possível
e pararam quando uma mulher veio cheia de papéis
e disse umas palavras estranhas
com um sotaque engraçado
que ninguém entendeu.

Fez logo o que tinha que fazer,
pintou todo papel à lápis
e observou a ignorância de muitos,
rindo e montando mais esquetes
enquanto escrevia
e achava que era o centro das atenções
mesmo sem ninguém olhar pra ele.

Logo saiu da sala,
e sentiu a mudança de temperatura,
ficou meio tonto e tomou um café
e decidiu esperar sua carona sentado na sombra.

Ele estava lá,
sentado na frente de uma escola estranha
que ele não queria estudar
e ficou pensando nela,
na outra,
na outra
e na outra.

E teve vontade de chorar,
por umas três vezes,
por motivos diferentes.

Mas sempre que seus olhos lacrimejavam
seu orgulho agia
e ele transformava a tristeza em algo pior
e guardava pra depois.

Dormiu a tarde inteira,
só pra fazer suas dores passarem,
sonhou com muitas coisas desagradáveis,
ultimamente seus sonhos eram pesadelos
e seus pesadelos eram pesadelos piores ainda.

Se cansou,
quando acordou com o coração disparado,
decidiu ficar acordado.

Ficou dando palestras para estranhos,
sobre assuntos que não eram o seu forte,
mas ele não conseguia conversar.

Depois ficou procurando alguém
para descontar seu estresse
e falar todos seus problemas,
e talvez ouvir palavras confortantes,
mas não achou ninguém,
todos tinham sumido
pediu socorro
e pediu um abraço.

Quando estava deitado,
quase dormindo de novo, frustrado,
seu telefone tocou.

E um estranho apareceu no portão da casa dele
justo o único que ele não queria conversar
ficou calado, durante horas.

De tanto o estranho insistir
ele contou toda sua história
que queria que outros milhares
tivessem perguntado antes.

E o estranho usou toda sua força
pra dizer umas palavras bonitas
aconselha-lo
e encorajá-lo.

E ele virou um poço de sentimentos,
não sabia se sentia pena,
se ficava feliz,
triste,
nervoso
ou aliviado.

E o estranho foi dormir
e ele ficou sentado, ouvindo músicas,
músicas que lembravam ele
daquilo que não podia lembrar.

mas ele gostava de sofrer
e continuou cada vez mais
ouvindo e prestando atenção nas músicas
e escrevendo coisas idiotas.

E até descobriu músicas novas
que deixavam ele pior ainda,
ficou sem saber o que fazer
e voltou a montar esquetes
que nem tinham finais felizes.

Esquetes,
esquetes e mais
esquetes.

É só isso que ele sabia fazer
e nem trabalhava como diretor
ou roteirista.

Inventou algumas mentiras
e contou pra si mesmo
só para se auto-afirmar
e fingir que estava tudo bem.

Ele precisa parar com isso,
precisa mesmo.

E ele continua fazendo tudo,
contando com a reação das pessoas,
das pessoas que nem ligam pra ele
e não faz mais nada pensando em si mesmo.

Eu já disse pra ele,
mas ele diz que roubaram seus braços.

Não sei,
deve ser difícil,
deve doer,
não posso julgar,
mas pelo menos lhe restaram as pernas
para caminhar.







Vamos, melhor se levantar,
o chão está gelado
e você está molhado,
vai acabar ficando resfriado.

Vamos, não fique assim,
por favor,
não combina com você.

Ok, estou te esperando do outro lado,
não me desaponte.

Confio em você.

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