quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Vento distorcido.

Ele se sentou
na cadeira da
cozinha e olhou
pra porta escancarada e
o seu papagaio fazia cara
de quem pergunta.: "O que
você está fazendo aí, acordado?"

Eu não sei como
dizer o que ele
está sentindo, mas
dá pra notar
pela sua feição
que algumas coisas andam
fora do trilho.

Mesmo agora
o coração dos dois
continuam gritando.

Ele estava apenas sentado
com os cotovelos
em cima da mesa
e os dedos entrelaçados.

A luz apagada,
com uma iluminação natural.
Talheres e pratos sujos.

Um óculos e uma garrafa vazia
para se lembrar
do que lhe atingia onde mais
lhe doía.

Fique.

Os braços de ninguém
o confortariam
mais.

E por mais que quisesse
só a lembrança
vagava.

Andava desanimado,
faculdade, família
e problemas no trabalho.

Não reclame, eu
disse.

Ele deu um sorriso simpático
com os olhos fechados...
Ah, como eu amo esse rosto,
quase me esqueço do que
tenho a dizer.

Quase que digo
que a imagem daquele rosto
valeria mais que
mil das minhas letras.
Brancas e gélidas, com
o mínimo do que
sinto, com
quase nada do
que eu desejo.

Mais cedo
ele saiu de casa,
só pra acender mais cigarros
com aquele isqueiro
escroto, laranja.
Cara, isso não é do seu feitio.

"Você precisa de mim?"

Se ele soubesse do que precisa
eu já estaria feliz.
Mas acho que seu colo
não seria ruim.

Foi pra santos de novo, parece
que tenta achar
algo que não acha aqui.

Pegue o caminho normal, eu disse.
Mas ele nunca me ouve, nunca.

E cinco minutos depois
estava ele, com as mãos
na cabeça e uma
luz na cara.

E os homens perguntando de onde
ia e pra onde vinha.

Depois saiu rindo, como
quem tenta disfarçar.
Mas eu sei, nem tente
me enganar.
Eu ouço seu coração daqui.

Um gole na dolly limão
e o medo de não sei o que.

Se você realmente está preocupado
porque não dorme?

Depois disso
piadas maldosas,
maldosas demais.
Senhor,
desculpe ele por mim.
Não que eu esteja
tentando justificar, apenas
gostaria de tomar as
dores.
O sofrimento dos outros
rende essa risada gostosa
que ele usa pra
fingir que não se importa.

Odeio quando você levanta
as sobrancelhas e suspira.

Odeio essa sua cara
de quem pode resolver tudo.
Odeio essas suas lágrimas de crocodilo.
Odeio o seu jeito de pensar,
odeio essa sua cara de sono,
e o seu olhar vago, odeio
quando você fica pensando
no que fazer, dizer, ser...
Odeio você!

Essa sua cara
de paisagem não me engana.

Suas dúvidas são
as mesmas pra variar.

Onde foi que você deixou
sua vontade?

Não responda.

E os minutos passam
e vai ficando cada vez
mais tarde. E
você pensando
nos lábios
daquela menina.

Sempre tudo
se resume a isso.

Por quanto
tempo mais
vai ficar
olhando o relógio
de parede?

Por quanto
tempo mais
vai ficar
olhando os peixes
nadarem?

Por quanto
tempo...

E você ainda me diz
coisas tão estúpidas
quando dorme e
ainda reclama
que não consegue
chorar.
Não é a toa
você deixa sempre
esse trabalho sujo
pra mim.

Se lembra
daquele
rosto vermelho
e da voz tremula
dizendo que
não aguentava mais?

Eu jurei
que não perdoaria
ninguém que fizesse
quem eu amo
chorar.

E em que situação difícil
você me colocou
senhor Facuri.

A que ponto o senhor
deixou chegar. Por
dezenove anos
eu acreditei em amor
por causa disso.
E agora você quer brincar
de ser filho da puta?

Até domingo de noite
seus olhos estavam
tão tranquilos, finalmente
me lembraram
os olhos daquele
menino que eu amei.

E hoje
você me vem
com essa mão na
cara e
essa bagunça no cabelo.

Você não tem jeito.
Acho que eu atirei
uma cruz na pedra.

Você reclama agora, mas
a culpa não é minha.
Me deram o escudo errado, me
deram uma espada sem corte, me
deram uma vítima inocente demais.

E só o medo
da angústia
te deixa angustiado.

Vamos ensaiar tudo de novo,
do começo, quantas
vezes você quiser.
Vou aturar à sua fascinação
por pessoas que não merecem, vou
aceitar o seu descaso
pelas pessoas que te amam.
Mas porra,
me deixe trabalhar, ok?

Olhe,
estamos juntos nessa,
então, não me faça desistir.
Eu sei que você é muito mais
do que isso que eu ando vendo.

Volte a ser
o que você realmente ama.
É isso que eu realmente amo.
E não espere o amor de ninguém.
Pois se o nosso amor acabar,
você não mais haverá.

Agora eu preciso de uma folga.
Sério... Vá dormir.

Apague as luzes e
não demore tanto
no título. Isso me enche o saco.

Anseio nosso reencontro
e espero que nossa conversa
tenha servido para alguma coisa.

Cordialmente, sua consciência.

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