Descobri que não gosto de
Vinicius de Moraes.
Péssimo começo...
Vamos lá:
Descobri que o amor pode...
Ainda não.
Não ficou a minha cara.
E eu sou o último cara do mundo
pra falar de amor.
Última chance:
Ele saiu de casa
com os olhos brilhando
ao reflexo do seu
frágil sorriso
amarelado.
Frágil, muito quebradiço.
E foi andando, achando
que em meia hora
estaria de volta.
Doce engano.
Deu carona à garota
que ele chama de panda
com o miau no banco de trás.
Deu carona à garota
que disse com aquela voz
de ar puxado, com aquela voz
que ele não aprecia, coisas que não
eram de sua conta.
Depois colocou
as músicas
novas no último volume
atingiu uns cento e
quarenta por hora
bateu o cigarro, olhou pro
lado e sorriu.
Parou o carro em cima de
uns maços vazios
e garrafas quebradas.
Ainda sorria.
E o sorriso ainda era sereno, mas
em seu último suspiro: Argumentou.
Eram palavras bonitas, palavras
decididas e de ombros largos.
Foi admirável,
mas foi inútil.
Continuou a se ofender
com a situação.
Vamos na casa deles?
- Vamos.
E de um por um a resposta era a mesma, é
claro. O culpado circulava entre
nós.
Quase como detetives pensaram;
Quase como juízes julgaram;
Quase como crianças apontaram;
Quase como seres humanos eles agiram;
Mas e então?
Como fica a situação?
Em aberto, ainda.
Aquilo parecia a santa
ceia, só que sem vinho
e pão.
PORRA!
Apenas diga,
expresse, esboce,
gesticule, argumente.
O seu silêncio é o que
fode a todos.
Se soubessem da verdade
nem o crucificariam.
Ele estaria morto antes disso.
Mas, na verdade o que irritava ele
é que tinha alguém
que realmente precisava
de sua presença.
No fim, ao nada
voltaram.
E talvez o nada seja o futuro.
E sinceramente, nada disso importa pra ele.
Pegou seu carro, quase que
dilacerando seus pneus no
asfalto esburacado e
correu pelas ruas, só
pra se mostrar superior.
Cumprimentou Judas, Pedro e
Jesus.
Acelerou de volta
aos seus cento
e poucos por hora, mas
dessa vez
sem o sorriso na cara.
Dêem passagem, ele
está com pressa, há
algo acontecendo do outro lado
da estrada.
Chegou na casa dela e
o seu olhar era tão esburacado
quanto as ruas que ele vagava.
Ele apenas sentiu muito.
Tudo o que movia ele
era a incapacidade
de ver sequer outra lágrima
derramada.
Parou o carro e ficou
sem saber o que fazer,
apenas rezando
para que realmente
estivesse sendo útil ali.
Ele já tinha passado
por algo assim e
sabia o quanto doía.
Santos ou Mongaguá?
- Santos.
E ele só imaginava aquela
música do capital
tocando lentamente
em sua cabeça
enquanto admirava.
Acendeu mais um cigarro
e foi indo pra casa
dessa vez dirigindo
um pouco mais devagar.
As brasas iam tecendo artes
abstratas na escuridão
da noite.
Deu um cochilo de meia hora
ali no carro mesmo, só
pra aguentar chegar ao seu destino. E
funcionou, ele parecia
mais vivo.
Voltou concluindo
uns pensamentos inacabados
e pensando no que diria ao
seu livro.
Agora certas coisas
eram mais intrigantes e
outras mais imagináveis.
É como se tivessem dado
as paisagens que faltavam
aos seus sonhos.
Por um lado chateado, tinha
perdido mais umas coisas
valiosas no caminho.
Por outro lado feliz,
mais um dia havia se passado.
Mesmo sem ele ter dormido.
E não é que eu não goste
de Vinicius de Moraes.
Só acho que ele devia tratar a lua
com mais respeito.
Talvez nem o mundo
que eu imagino seja perfeito.
Chegou em casa e o
chão molhado o fez
lembrar da senhora
de cabelos loiros que
limpava a casa de qualquer
jeito.
E semana que vem
a solidão volta a assombrar.
É um péssimo jeito
de se olhar.
Sentou-se na sala,
com mil e um insetos
rodeando as suas pernas, a TV
desligada e o
controle jogado.
A garota mais linda do mundo
na parede, do lado
de um quebra-cabeças
gigante com mil e um
santos espalhados.
O por-do-sol que era
admirado do meu quarto e
um peixe fora da água iluminavam
a escuridão dali.
Colocou uma singela música
e singelamente
esperou o sono voltar.
Pensou como tudo aquilo era
vazio, mas
ainda queria continuar. Ainda
tinha muitas coisas a falar,
muitas coisas a se pensar.
Talvez
seja só o jeito errado, a
hora errada e as pessoas erradas.
Mas uma coisa é certa:
Eu ando gostando de ouvir,
contar e
admirar essa história.
Eu aposto que a garota de olhar esburacado, só se sente um pouco melhor, porque faz parte dessa história .
ResponderExcluirSerá que a Panda nunca leu isso aqui ?
Sobre a santa ceia ... Não existe outra saída, a não ser cruxifica-lo não é ? Esses desfechos trágicos me partem o coração, mesmo sendo Judas. Deve ser porque já fui Judas ... Será ?
Acontecimentos revoltantes, as vezes tornam o livro mais emocionante. Mas não tem graça na vida real, porque são revoltantes. Eu sei.
Sem mais por enquanto.
Não consigo mais entender seus textos como antes.
ResponderExcluir:OOOOOOOOOOOOOOOOOO Vc mudou seu Blog \o/ Eu gostei, ficou mais tranquilo assim, me trás mais paz.
ResponderExcluirE o Snoopy ali do lado ficou ótimo, amo ele, tenho alguns livros do Snoopy, se quiser emprestado algum dia *-*