Como posso dizer que sou
um homem maduro, se somente
carrego alguns fardos inúteis
na minha carteira?
Um homem maduro deveria
chorar por seres irracionais?
Todos os dias e todas
as noites as suas palavras
ofuscam minha visão.
Talvez seja por isso
que a lataria do meu carro
está amassada.
- Me veja um carro de silicone.
No fundo eu meio que desejei isso, nas
minhas esquetes tão sádicas.
É apenas outra sexta a noite
pra mim e meus acessórios idiotas,
as luzes estão prontas e o som ligado;
Ainda faltam duas horas e trinta minutos
e minha vontade é de gritar.
Eu não quero me importar, eu
só não sei como.
- Me veja mais duas doses.
Antes eu tinha medo da minha cozinha, mas
agora até gosto da companhia canina e
do barulho da geladeira.
No fundo eu nem sei no
que estou me tornando.
Parece que estou só me transformando
no que eu mais abominava:
Meu próprio eu.
- Me veja como nunca viu ninguém.
Os seus olhos vermelhos
me pedindo pra parar, talvez
tenham servido
pra muito mais do que você imagina.
Se não fosse isto, talvez
meu diamante negro
estivesse muito amargo hoje.
Isso me lembra de algumas mentiras, en-
graçadas.
- Me veja um cigarro.
Aliás, eu sou tão complexo, vejo
doce em tão pouco.
Mas, mais parece que hoje o destino
age contra mim. Me ofereceram
antidepressivos umas três vezes.
Não me fodam, oras.
Me esqueçam, oras.
Aliás, eu sou tão complexo, vejo
amargo no tão doce.
Aliás, eu sempre gostei do
sabor azedo dos sorvetes e
das tortas.
- Me veja uma torta de limão.
Deus, eu daria
tudo por uma noite.
E a minha caixinha de som
continua tocando sua
música lenta, sublime, calma e
elegante.
Talvez ela toque essa melodia singela
para todo o sempre.
Eu gosto tanto desse sentimento
que gostaria de sonhar com ele hoje;
Eu só quero uma noite perfeita de sono.
Meus sonhos;
Tão
simples e limpos
dançam alegremente
pela minha cabeça que
acha que sofre tanto.
Esboço um sorriso engraçado,
esquecendo a dor do peito
enquanto a sua verdade vai rasgando
uma entrada no meu coração
devagar, por longos
anos.
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