segunda-feira, 28 de novembro de 2011

J.

A luz acesa
enquanto o passarinho
se ocupava comendo
seu alpiste fora
de hora.

A árvore piscando e
o presépio presepando.

Do que estavam
falando?

Talvez eu não
entenda muito, mas
deixe que eu
te explique.

Parece que você
até entende essa
minha língua
estranha.

Parece que você
até sente um pouco
dessa coisa
estranha.

Parece,
você até parece comigo.
Estranho.

Minha respiração
forte, o desânimo
casual e
o vazio tradicional.

Vergonha estampada
bem no peito.
Na boca e nas
mãos.

Eu não consigo entender.

É muito a se pensar
e eu só queria
aproveitar.

Por que eu ligo tanto?
Por que eu não digo?
Por que você não diz?

Talvez nunca digam.
Talvez eu nunca entenda,
talvez nunca entendam.

Me sinto mal, não
costumo me sentir
assim.

Apenas gostaria
de uma dose
disso e daquilo.

Enquanto não, vou
vendo o mundo
passar.

Passando música
por música, esperando
sentir um sabor
que não existe.

Só quero um descanso, um
descanso de mim, um
descaso de mim.

Penso que
penso demais.

Me conforte
quando eu menos merecer,
é exatamente
nesse momento
que eu mais preciso.

Não me sinto.

Mas foi eu quem elaborei
essa situação.

E deveria ter lembrado
que meus planos
sempre dão errado.

Talvez...
Até amanhã.


Uma letra,
dez significados.

domingo, 27 de novembro de 2011

Bem-vinda.

O pai
levemente embriagado
fazendo piadas.
A mãe
serena, fazendo
todas as suas tarefas.
A irmã
baixinha, atrás de
suas duas filhas.
As sobrinhas
correndo de um lado
pro outro, graciosas.
O cunhado
dizendo e fazendo
as mesmas coisas de sempre.
O cachorro
correndo de um lado
para o outro, esperando comida.

Está um dia bonito, não?

The doors.

Atrás dessa
porta,
falsidade.

Pareço intelectual
atrás dessa fumaça,
mas sou só
um andarilho.

Não quero trocar
o perfume dela
por carlton.

Não quero trocar
o seu ideal
pelo meu.

Sou uma pessoa estranha.

E ninguém lembra o nome
de pessoas estranhas,
graças a Deus.

Pessoas ficam
estranhas quando
você é estranho.

Uma noite perfeita.
Perfeita pra eu notar
o quanto tudo
isso é estranho.

Atrás dessa porta,
outra porta.

Prostitutas, drogas,
vaidade, menosprezo,
narcisismo, álcool.

E você mente que é feliz.

E eu aqui
sorrindo por ter um cachorro
me esperando acordado, um
pão amanhecido pra enganar a
fome e uma
mulher que eu possa dizer que
amo.

Atrás dessa porta,
complexidade demais.

Feche o trinco e vamos dormir.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Outlaws.

Essas regras
impostas são
chatas demais.

Viveremos então,
como foras da lei.

Em algum lugar onde
possamos apenas
sonhar, um
lugar onde nossa
alma seja sempre livre.

Um lugar em
que toda a grama
é verde feito
doce e
a maré
sempre alta.

Um mar cristalino e
ao redor apenas rostos
perdidos que
não são obrigados
a dizer nada.

Um lugar onde
possamos sentir
sem ser julgados.
Onde possamos fumar, beber
sem compromisso com nada.

Esta imagem
é tão perfeita
que não gostaria
que sumisse
da minha mente.

E...
Ah! Estou
falando sozinho
de novo.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Rosa.

Eu disse
que ia fazer
o mundo
acreditar
em fantasmas.

Fantástico
viver.

A fumaça viajando
entre a luz
fraca da rua
e a escuridão
da lua minguante.

Tarde demais,
começou.

Você pensou, eu
disse para
pensar.

Você conseguiu
o som que
todos queriam.

Você sonhou, todos
disseram para
que sonhasse.

Mas com que sonhou?

Eu só queria jogar um jogo, só
queria uma tentativa.

E agora,
agora.

Frascos jogados
ao nada, analogias
satirizadas.

Mal posso contar.

Você disse o nome, a
partir daí
eu chamo de sorte.

Talvez eu não seja
incrível o suficiente
para distinguir
o céu do inferno.

Fizeram você
trocar cigarros por
beijos, calor por frio,
brasas por cinza.
Fumaça por fumaça.

Então, você
acha que já
aprendeu a
viver?

Você acha que
pode entender
o brilho dos olhos, o
céu azul ou
o conforto dos braços?

Você pensa
que pode
entender o amor?

Nós somos
apenas duas almas perdidas
nadando num aquário.

Ano após ano
correndo neste mesmo
chão.

Os mesmos medos
só que diferentes,
como queria
você aqui.

Poderia me ajudar
com esta pedra?
Estou indo pra casa.

Isso é apenas uma
fantasia.
Apenas real demais.

Apenas.

Cedo demais,
não posso
parar ainda.

Tome um trago,
vamos ficar acordados
para sempre.

Você ainda não pode ver.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Acorde.

E então
meu carro
por aí.

Paro pra pensar
em você, enquanto
ouço as músicas
novas que você
estranhou.

Penso se
está pensando
em mim
nos seus sonhos.

Acelero.

Senti tanta
falta dessa sensação.
A brisa
batendo no meu rosto pá-
lido e
ardendo meus olhos
sonolentos.

O asfalto
molhado
com desenhos
pintados pela água.
Como se alguém
tivesse passado a noite
toda pintando uma paisagem
no chão que eu
ia andando devagar.

Vamos brincar
de ir em outra
cidade.

O relógio
enferrujado
faz eles
tremerem.

Aumente o som
e deixe-me
tentar entender
como esse som
é perfeito.

É assim.
Bem vindo,
passe a batata.

Só quero dirigir
mais alguns metros, só quero
te explicar
minhas teorias, minhas
opiniões, só
quero ficar acordado.

Pareço agora uma criança
lutando contra o sono.

É errado?


não consigo parar
de pensar,

não consigo dormir,

não consigo entender,

não consigo esperar;
Só.
Não.

não consigo,

não sei,

quero,

não suportaria,
só.
Só?
Não. Meu
sol.

Sono.






Durma.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Face to face.

Você se lembra
daquela época
em que éramos
livres pra tocar o
céu?

Muita coisa acontece
e na minha cabeça
apenas a nossa
imagem. Sentados num
muro de azulejos.
Você se lembra?

Já estava careca
de saber o que iria
acontecer.

Deixei-me.

E agora o que me resta
são os
pneus carecas
do meu carro.

Quando caímos
nos machucamos.

Quando caímos?
Me de uma razão, de-me
um motivo.

Sente o frio?

Foi isso que
sempre senti.

Não posso dar um
nome ao que sinto.
Não posso dar um nome
ao meu herói.

Um destemido, em
cima da escada,
dizendo coisas tão
falsas quanto
o meu sorriso.

Apenas gostaria de te
levar nesta dança.

Num mundo em
que os sonhos
são perfeitos, tão
perfeitos quanto a
nossa silhueta
olhando pro nada.

Não é justo.

Mas tudo tem
seu preço.

E estas parcelas -
de culpa -
estou pagando a
muitos anos.

Garota,
eu apenas quero saber
se posso sonhar
com você.

Farei tudo fazer
sentido.

Farei o meu
sonho de ontem
a noite fazer
sentido.

Farei esta música
ser perfeita.

Farei a noite ser mais
curta e ao mesmo
tempo mais
longa, enquanto
você sobrepõe
o brilho da lua
que tanto amo.

Deixe-me te chamar
de amor.
Participe deste meu
jogo sem regras.

Deixe-me
com a nostalgia
da minha noite
de sono perfeito.
Deixe-me sonhar
acordado.

Garota,
chegue mais perto.
Deixe-me
sorrir.

domingo, 13 de novembro de 2011

Minha lua.

Eu quase posso ver
os seus olhos
nessa manhã
gélida.

Sou só uma piada de mal gosto,
mal contada, sem
graça. Dita de graça.

Eu sinto não poder explicar,
sinto-me triste, sinto
meus olhos lacrimejarem.

Sinto muito, sinto
que não posso aguentar.

É muito pesar
em minhas mãos.

Apenas queria
saber o quanto
você me ama.

Sinto gotas
pesadas tocando
meu rosto.

Talvez se eu
não tivesse mentido tanto
não teria feito
o mundo chorar.

Sinto que posso tocar o céu,
sinto meus olhos negros
mais negros do que nunca.

Sinto minha
fumaça se dissipando
no ainda mais negro
canto de sala, enquanto
me frustro com
as mesmas coisas de
sempre.

Sinto vontade de
dizer coisas que não
devo.
Nem deveria
sentir.

Enquanto a banda
favorita da
libriana toca
sem dó no
fundo da minha mente
opaca.

Sempre foi assim,
ter ao meu lado
tua lembrança,
tuas lembranças,
junto destas músicas perfeitas.
Sem novidades.
E você,
distante, mas
quase do meu lado.

Pra que dizer?

Todo o sempre.
É sempre assim.

Ao meu lado apenas
a escuridão, sinto que devo
dormir.

Só queria estar nos seu braços
pra te contar de novo
a piada que sou.

Me perdoe
por ser uma piada
de tanto mal
gosto.

Me perdoe
por ter me apaixonado
tanto assim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sakura Biyori.

Entregue a mim
todos os sentidos.

Há muita memória
a ser apagada, muito
saquê a ser bebido.

Eu apenas gostaria
de esconder para
sempre o
quanto.

Me sinto um velho
soldado ferido
que tem a chance
de ver o sol mais uma
vez.

E o medo do
escuro é claro
para mim.

Isto é chuva?

A chuva gelada
sempre me agrada
enquanto toca o meu
rosto.

Ela me lembra as marcas
deixadas naquele
dia.

Minhas cicatrizes
são meu tesouro
insubstituível.

Talvez eu nunca tanto.
Depois de mil
outonos uma primavera.

Elas são perfeitas.

Entregue a mim
tudo que
sentiu, entregue
tudo que sempre.

Entregue-se.

Eu quase posso respirar
estes sentimentos
que transbordam
da tua pele branca
e fria.

O que ameniza
a dor
é a tua imagem.
Refletida nos meus sonhos
mais secretos.

Minha expectativa nunca
grande mostra seu
esboço, de longe.

Meus quereres,
são sempre
tão simples,
tão complexos.

Apenas gostaria
de ouvir tua voz, dizendo
coisas tão sem sentido;
De ter aquela
sensação que sinto
apenas na tua presença;
De que teu hálito inundasse
minha cabeça e seu cabelo
continuasse cheirando a doces.
Gostaria de ouvir para sempre
tua respiração forte
no meu quarto,
adoraria teu rosto vermelho
mais vezes.

Gostaria
apenas de um pouco
de paz.

Enquanto não posso
mais acender cigarros
vou acreditando
no improvável,
como xilocaína
aos problemas que
só eu conheço.
O que me resta nesta
solidão é
imaginar teus
pequenos lábios
e o teu
cabelo desengonçado.

Imagino como seria gostoso
se esta complexidade
fosse mais simples.

Mas comparado a antes
me sinto quase feliz.

Não poder te procurar, te
ver, te falar, te
amar.
Não poder escrever
sobre você
era tortuoso, quase
impossível.

Agora preciso ir embora,
estes retratos
na minha sala
estão cada vez
mais molhados
e acho que nada
pode ser feito
sobre isso.



Esse som,
o teu
som.
Sublime,
como sempre.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Fuinha, rs.

Essa expectativa
ainda me mata.

Sou só um escorpiano
de ascendente escorpião
com o coração duro
demais.

Nunca sei o final
do caminho que decido
traçar e
me impressiono
a cada esquina.

Sou tão contraditório.

O mentiroso mais vil do
bairro, o
cara mais sincero do mundo.

O único narcisista
que sofre
de baixa auto-estima.

E acho que ando me tornando
eclético demais.

Parece que vejo
prazer em ver
as pessoas sentirem
dor.

No começo era mais fácil.

Estou morrendo de sede,
depois de tanta batalha
só desejo um gole
do meu hidromel.

Um gole da única bebida
que vale a pena
se tomar.

Seja minha dádiva,
guardado por efeitos
de teclado.

Eu quero mais.
Eu não aguento mais.

Divórcio.

O que me mantém
vivo é um
papel e
meia dúzia de
letras.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ninguém em casa

Dormindo na sala
sem saber direito quando deitei
ou quando vou acordar.

Minhas lembranças todas
envolvem você
ou fumaça.

Ou você
com fumaça.

Minha companhia são
meus gatos e
a TV.

E eu me reviro no sofá enquanto
balbucio o seu nome
na minha mente.

Eu não consigo resolver meus problemas
por isso carrego este isqueiro
vermelho comigo.

Por isso ouço Pink Floyd.

Só para poder ir pra outros lugares.

Mas não tem ninguém por aqui.
Assim como de onde eu vim.

Prostitutas, drogas e álcool,
nada serve, nada completa.

E eu vejo as coisas acontecerem
de um jeito diferente, num
tempo diferente,
enquanto minha barba e o meu cabelo
vão ganhando volume.

Enquanto meus sonhos
vão se focando em você.

Agarro pescoços estranhos e
oportunidades alheias.

Eu não estou surpreso, parece
que finalmente,
estou realmente sentindo.

Então é assim?



Não digo que fui enganado, porque
ninguém me disse pra acreditar.

Muito pelo contrário.

As únicas almas
que me me disseram que ajudariam
agora estão longe dos meus
telefonemas também.

Nem o meu cachorro deixaram em paz.

Todos estão morrendo, até meus peixes.

Fico tentando precipitar o próximo
tiro, sem sucesso.

Ainda guardo comigo
sabores, texturas,
formatos, cheiros.

Sinto falta das minhas mãos
pegando fogo.

Ainda guardo comigo
o sentimento, dentro duma
caixa de madeira.

Junto com as minhas ideias-
todas-azuis. Onde uma bailarina
de cabelos longos que mudam
de cor, é a guardiã. Tocando
uma música melódica
que eu mesmo gravei
enquanto estava entre lá
e aqui.

O que me resta é mais um cigarro
e sair por aí procurando por
problemas, como
sempre.

Foi isso que perdi?

Só gostaria dos meus sentidos de volta.

Enquanto isso um whisky me convém,
eu tenho de ser forte, eu
tenho que entender.

Eu tenho que sobreviver.

Sabe?
Algumas vezes é preciso
saber o que você não é
para entender o que
você deseja ser.

Horas e horas
apenas tentando correr,
dizendo coisas pra mim mesmo.

Eu gostaria de contar pra alguém,
mas não tem ninguém em casa.

Deixe as luzes apagadas,
feche os olhos e eu guio
pela escuridão. Aqui é meu lar.

É hipocrisia demais
começar rezar agora
para que tudo acabe bem?

É hipocrisia dizer
que errei?

É hipocrisia demais
o que me tornei.

Não confie em mim pois
eu mesmo não confio mais.

Por favor
não
me deixe em paz.

Sangue na saboneteira.

Horas olhando pro espelho
do banheiro e pro
sangue na pia, pensando
qual música ouvir, pensando
qual filme citar.

Na verdade,
preciso entender.
Na verdade,
preciso esquecer.

Todo dia é a mesma coisa,
um café amargo e
um pouco de fumaça
pra cauterizar
as feridas que foram feitas
durante a noite.
E as feridas que ainda farei durante o dia.

Suspiro

Boa noite, eu
vou indo. Tenho
compromissos.

Na verdade,
eu só quero entrar
no meu carro
e ouvir aquela música.

Aquela música que me cativa
e que me lembra de uma
época em que haviam
apenas flores.

Mas meu carro nem por aqui está,
e as flores há muito tempo
pararam de respirar.