quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Os três reis.

Eram ainda oito e meia
e ele já desfrutava
de um sono que seria interrompido
até então.

"Vamos indo, temos
compromisso". Sua
indecisão incertamente
deixa indefinido o
improvável
futuro deles.

Não é que ele estivesse
indiferente quanto a isso, apenas
incrédulo na instabilidade
de sua opinião um tanto
quanto indigna.

"Vamos indo",
disse tirando mais um
fio de cabelo que sobrara
no condicionador.

Disse adeus, jogando o
cabelo na água do chuveiro
como se dissesse adeus
à uma lembrança ou algo
assim.

"Acho que estou superando bem",
lembrou ele.

"Seria mais fácil se alguém nessa casa
tivesse cabelo longo", suspirou.

Ele seguia seu caminho
no passageiro do carro
com toda a animação que
pudera juntar até ali.

Fato que preferia uma cama, mas
isto não embeleza a história.

Ela esperava lá longe, na cidade
em que sempre faz frio, na cidade
em que sempre há som de chuva, mesmo
quando o sol irradia todos os relevos de
suas ruas tortas, agora
asfaltadas.

Lembrou-se por um momento
do seu sonho matutino, com a garota
que agora morava por lá, suspirou,
de pura nostalgia.

Só queria um café quente, agora
que entrava no véu gelado daquela
cidade.

Olhou para o céu, procurando
estrelas. Mas as estrelas já estavam mortas
há um tempo.
Tudo que conseguiu encontrar foram
péssimas lembranças e
vozes dizendo coisas que não
deviam ter acontecido.

Focou sua visão para
não cochilar por ali mesmo
e daqui uns minutos
estava na casa daquela mulher.

Aquela mulher de cabelos brancos.

Ainda mais cedo
o primeiro rei já havia estado por lá,
esbanjando sua inteligência, seu poder e sua
eloquência.
O segundo havia lhe trazido esperança,
prudência depois de tamanha inconsequência.
O terceiro estava atrasado, chegara por último.
Trouxe um troféu de presente, mas não
esbanjou seu brilho com arrogância,
os traços de humildade deixavam ainda mais
bonita e amarela a luz que refletia
no lustroso jovem que sorria sem
barba no sofá da sala.

E talvez pelo menos mil
palavras tenham sido
trocadas
no silêncio que
predominava.

Nem todo carinho precisa
ser esboçado com
um "eu te amo".

Mas a troca de sorrisos que
aconteceu valeu a pena.

E talvez tudo que aquela senhora gostaria
de receber em seu décimo quinto
aniversário fosse uma visita de cada
um daqueles que dividiam a honra de
portar seu sobrenome.

Tudo bem,
talvez eu esteja glorificando
demais chamando eles de reis.

Talvez eles não sejam reis, tampouco 
magos.

Sei que não trouxeram ouro, mirra
ou incenso.

Mas acho que depois de tantos anos
começaram a dotar de orgulho
uma grande rainha que sempre
os tratou com príncipes.

Depois de tantos anos, obtiveram
o dom do perdão.

E agora, como reis, eles vão até
seu antigo castelo, contar
um pouco de sua história
todo dia quatorze de fevereiro.

Mesmo que você, eu, ou todos
nós tenhamos atitudes erradas.
Mesmo que tenhamos agido
de forma incoerente.
Todos precisam de algo para se orgulhar, todos
precisam de algo para amar.

Talvez passemos tempo demais
pensando se devemos, se podemos.
Talvez passemos tempo demais
pensando se é justo amar.

Talvez não passemos tempo o suficiente
amando de verdade.

Talvez o grande erro do ser humano
seja julgar.

Talvez o grande erro do ser humano
seja pensar;
Pensar invés de sentir.

Talvez a solução seja apenas
gritar, sorrir, chorar, observar.
Sentir;
Amar.

E talvez todos nós realmente
passemos tempo demais
procurando e trabalhando
na ideia de sermos felizes,
enquanto a felicidade é algo
complicado de se achar
por estar tão debaixo do
nosso próprio nariz.

Talvez toda a felicidade
ainda esteja guardada
num por do sol,
no final de um livro. 
Num suspirar de alívio, ou num
sorriso inocente...
No esboço de amor
de uma rima
incoerente.

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