laranja, dançava
e gritava;
Um som estonteante,
agonizante, que
rasgava as quatro
molduras de seu
quadro preto.
Por que o que
tanto odiei agora é
tão agradável?
Parece uma história
que eu já li, uma
história que já ouvi.
O piano soa
devagar, como
uma melodia
que precede
sangue e enquanto
isso, troco
os lençóis
e entulho as bagunças
no armário.
A música soa
perfeitamente
linda para aqueles
que desejam
estuprar cordeiros
que passeiam.
Mas isso é uma
analogia egoísta.
A única pessoa
que talvez pudesse entender
agora jaz muito
longe.
E eu, persisto atônito
por ter confiado a segurança
dos meus punhos, braços e mãos
à uma pessoa
que fugiu sem
o menor sinal de
perseverança, resistência,
esbanjando sua
ignorância.
Parece que só
a minha dor era aceitável
sinto por ter de dizer.
Mas minha glória o assusta e
o deprime.
Que triste.
Era tão estranho quanto
agradável, era
neve no verão.
Não posso admitir, mas não
posso mentir.
Nunca deixei de não sentir
a sua falta.
Como uma criança iludida
no dia da véspera de
natal espero
milagres demais acontecerem.
Espero soluções
embrulhadas em cetim
vermelho, com um laço
amarelado ou 'azul-sem-fim';
Espero que caiam da chaminé
que ainda aguardo
que por um milagre
seja construída
bem no lugar da goteira que inunda
meu quarto.
A goteira gentilmente gasta
seu tempo gotejando, garbosa,
galante, enquanto gesticulo grandes
mentiras gradativas.
Ela goteja
e molha o esmalte
descascado que
ainda não tive coragem de jogar
no lixo.
Gosto,
eu gosto de lembrar.
A pergunta certa não
é 'quem?' e sim
'o que?'.
A música clériga
continua a soar
enquanto o sangue
continua a jorrar.
Enquanto subia
dezenas de degraus
se lembrava
do quanto era sorridente
ao som menos estridente
da voz do seu parente, oh céus!
Acho que sempre fui carente,
mas antes que tente:
Não me sinto diferente, não
me sinto um demente. Era feliz,
felizmente.
E a felicidade não
depende dessas coisas
que você diz que a felicidade
depende. E sem nem mesmo
notar, procurar ou folhear, pronto!
Você acaba ficando feliz
abruptamente.
Essa é só a visão de toda
essa gente.
Que se diz santa, mas engana.
Que se junta para proclamar hipocrisia.
Odeio gente que mente, mas infelizmente
por mais que tente não há o que eu invente
para parar este falso moralismo.
E por mais que eu pareça
inteligente, sou só um poeta
que pouco sente.
E o que me resta é um jogo
esdrúxulo de palavras.
No fim eu mesmo
não acredito em qualquer
realização e ainda faço
a questão de odiar.
No fim sou o pior
para falar, um
psicólogo com
problemas demais para
consultar.
Um poeta que gasta
tempo demais
tentando acreditar
que já achou o seu
grande amor.
Um escritor que
não gostaria de saber
o final da sua própria
história.
Sou a história.
Uma história feita de mentiras
que de tanto contadas
se tornaram a maior
realidade de
todas.
Mas
não se
incomode,
é uma história
que acabou de começar.
Uma história
cheia de verdades que
de tão pouco contadas
se tornará a maior
mentira de todas.
Sou apenas um pássaro azul, um
peixe dourado.
Sou uma pedra incompleta.
Sou apenas
alguém que ainda
não quer um título.
Sou apenas alguém
que ainda é inexperiente
demais para criar um título.
Por isso o batizo de vazio.